Outro dia, numa tarde fresca, fiquei da janela à observar o céu. Estava o céu limpo, com poucas nuvens e a passarada voava no azul celeste criando formas e contornos inimagináveis, uma tarde linda.
Me dei conta então que muitas das tardes que nem vi passar, devem ter sido lindas como essa, ou até mesmo mais lindas e passaram por mim desapercebidas. Decidi prestar mais atenção nesse detalhe ao notar que aquela simples imagem havia dado uma nova forma ao meu dia.
Voltei os olhos pra os passantes, muita gente e muita pressa. Centenas de pessoas que passam por si sem se notar. Ao observar aqueles que andam em pares ou grupos, nota-se que muitas vezes estão sorrindo e conversando, percebe-se então que provavelmente são pessoas alegres e interessantes, ainda assim os demais apenas passam, noto então que muitas ou todas as vezes caminhei pela rua entre centenas de pessoas, como se estivesse só entre meu ponto de partida e destino, ignorando pessoas que poderiam e podem representar uma parte importante da minha história, decidi então observar mais e me aproximar dos demais, é verdade que é necessário se desprover de suas camadas rústicas e ignorantes de segurança pra fazer isso, porém, assim como é necessário vestir-se pra escapar do frio é necessário despir-se pra sentir o vento.
Vislumbrei os casais apaixonados e fui acometido de um sentimento de nostalgia, uma saudade, lembrei das cartas esquecidas dentro da velha caixa jogada em qualquer canto do porão, olhei pra cozinha e lá estava ela, a pessoa maravilhosa com quem compartilho meus dias, a artista com quem escrevo um dia de cada vez na minha história e na história dela. Lembrei de momentos doces de nós dois, não pude deixar de recordar de outras histórias passadas, porém, essa é a melhor delas. Me lembro bem do dia que nos conhecemos, que não vou descrever pois não preciso cansar os leitores, mas com certeza nesse dia eu não observei o céu e tão pouco os passantes, nesse dia eu só enxergava um par de pernas e um olhar que transitava no escritório onde naquele tempo eu trabalhava, decidi então que precisava saber quem era aquela, aquela moça séria de andar compassado, óculos na frente do olhar verde claro e muita garra. Hoje essa mesma moça é o motivo da minha mais sincera felicidade, única pra mim, dediquei-me à fazê-la feliz e o fiz. Descobrimos juntos que a vida tem mais cores, que o amor não é só uma lenda, assim como não é o mesmo das lendas, no amor como em qualquer outra situação, é necessário lutar pra alcançar, é necessário sujar as mãos, cada escolha é uma renúncia, cada degrau é uma vitória e ao mesmo tempo um perigo maior em relação ao chão, prosseguimos nesse conto de fadas, modernizado e alcançamos devido à sensatez, a graça de ser feliz, compartilhamos nossos fardos, sendo um o apoio do outro, só assim a felicidade se fez. Agora nesse instante, em que à observo cantarolando Roberto Carlos e terminando de limpar a cozinha, sinto que não sou o melhor do mundo assim como não ambiciono ser, mas sou muito satisfeito e feliz com tudo o que devido à minha competência consegui merecer.
Por aqui me despeço, surgiu-me uma imensa vontade abraça-la, daqueles abraços que quando ela sentir, vai escutar todas as palavras que eu gostaria de dizer, mas não são suficientes pra expor uma mínima porcentagem do que eu preciso expressar.
Para todos vocês fica aqui um conselho, vocês já o leram, se não entenderam leiam de novo. Não estou aqui pra presentear-lhes com o peixe, mas eis a vara... Pesquem.
(Talvez todos nós saibamos disso, mas nunca é demais recordar.)